Inicialmente pretendia escrever um livro que eternizasse minha vida. A oportunidade de escrevê-lo pela primeira vez surgiu quando eu ainda trabalhava no Senado Federal, logo quando cheguei a Brasília, um período especial em minha vida e pouco conhecido dos amigos que permaneceram no distante Rio Grande do Sul, meu estado de origem.
Em Janeiro de 2003, comecei a planejar em minha cabeça, como seria o livro. Haveria uma clareza total de tudo que passara na vida? As discrepâncias sociais da minha juventude seriam abordadas em sua integra?
Foram turbilhões de pensamentos, perguntas que me torturaram por dias, hora no gabinete amplo da ala Afonso Arinos do Senado, hora no apart do Meliá Confort, onde morei na minha chegada a Capital Federal. Noites e dias tentando encontrar a linha certa das reflexões e afirmações que colocaria em minha primeira obra.
Me convenci que deveria colocar histórias da minha vivência pessoal, é claro, e analisaria as razões de certas emoções recorrentes. Mas o mais importante, seria a viagem intelectual que faria, descrevendo cada passagem e cada lugar com sutilezas e detalhes minuciosos.
Quando sentei pela primeira vez para escrever o livro, foi como se estivesse voltando ao passado mais profundo de minha vida. No décimo segundo andar do hotel, em uma mesa frente á janela, ao mesmo tempo que dividia meu olhar entre a Explanada dos Ministérios e a tela do computador, lembrei-me das histórias do meu pai, que tinha o costume de contá-las segurando o meu dedo menor da mão direita, ficava por horas ao meu lado até que o profundo sono me tomasse por completo.
Recordei da face de cada amigo da minha conturbada infância no subúrbio humilde da pequena cidade em que cresci. Por alguns instantes vi minha avó no parreiral colhendo uvas para sobremesa do almoço dos sábados, e da minha irmã, experimentando dezenas de amostras dos perfumes que nossa mãe vendia para ajudar no sustento da casa.
Todo esse rio de recordações, todas as minhas teorias incertas pareciam imaturas e quase prematuras. Contudo, resisti muito á decisão de expor a minha vida em um livro; afinal meu passado estaria á mostra como laranjas nas feiras de rua,
Um passado que sempre me trouxe dúvidas e até mesmo um pouco de vergonha de algumas situações. Não porque esse passado seja particularmente doloroso até mesmo cruel muitas vezes, mas sim porque fala de coisas pessoais, contrários a uma escolha consciente que fiz e que – para todos os efeitos – diferem e contradizem o mundo que vivo agora.
Todo o trabalho autobiográfico, conta com o risco de enfeitar os acontecimentos em favor do escritor, o que de certa forma, é normal, pois sempre buscamos o que temos de melhor em nós mesmos. Costumamos a apresentar nossa melhor face as pessoas, nossas virtudes sempre vem primeiro, os defeitos normalmente deixamos que descubram por conta própria.
Em alguns momentos com certeza devo ter enfeitado além do normal uma ou outra passagem, colocando uma árvore mais verde onde existiam apenas alguns galhos secos.
Alguns personagens que compõem esse livro são pessoas que me acompanharam em situações da minha vida, muitas ainda são presentes, outros permanecem nas lembranças do passado, e óbviamente alguns acontecimentos estão fora da cronologia correta, com exceção da minha família e das personalidades públicas e políticas.
Na verdade o que procurei escrever nessa autobiografia, memória, seja qual for o rótulo que se dê a este livro, foi o relato honesto de uma parte de minha vida, acompanhada de muitas frustrações, sonhos, realizações e principalmente amor.
Por fim, meus amigos que colecionei por toda minha vida, formam a maior inspiração desta obra, por essa razão é a eles que dedico este livro.
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