PRÓLOGO - GIGANTE DE FERRO EM PORTUGUÊS


Quase quatro décadas se passaram desde o inicio da história narrada nesse livro. A velha fronteira onde boa parte da história se passou, sofreu grandes transformações, já não existe mais o comércio ilegal por parte dos compradores Uruguaios e dos contrabandistas brasileiros, no lugar dos antigos prédios das agências de ônibus da cidade uruguaia de Rio Branco, ergueu-se requintados free- shop, atraindo milhares de brasileiros, invertendo completamente o que ocorria no passado.
A cidade brasileira de Jaguarão entrou em um processo de empobrecimento acelerado, centenas de lojas fecharam suas portas e as poucas que permaneceram lutam diariamente para suportar, de maneira heróica, a atual situação.
Muitas famílias tradicionais da cidade se deparam com uma situação inimaginável a quatro décadas atrás, onde viviam regadas de riquezas e farturas, representadas na ostentação das luxuosas camionetes conduzidas pelos seus filhos de menor idade, nas largas avenidas da fronteira.
A agricultura sem subsídio por parte do Governo Federal castigou os grande plantadores de arroz e muitos perderam suas plantações, acumulando dívidas a cada safra, alguns sequer, ainda defendem sua propriedade. A própria granja onde trabalhei, na década de oitenta, foi confiscada pelos bancos e o proprietário antes de falecer já havia perdido tudo.
Ao redor da cidade surgiram dezenas de vilas, desprovidas de saneamento básico, e programas sociais visando à capacitação dos moradores. O desemprego castiga a população da cidade e muitos acabam indo embora em busca de novas oportunidades em outros lugares, como Caxias do Sul e Florianópolis-SC.
No desespero que bate a porta daqueles que assistiram o cenário de uma fronteira repleta de oportunidades e empregos, persiste a busca incessante pelo resgate do passado que hoje não existe mais.
Nessa mistura de desilusão e esperanças, surgem as promessas mirabolantes de reconstrução política e social por parte de novos líderes, que surgem ocupando espaços que antes pertenciam aos tradicionais políticos que assistiram de braços cruzados a queda da Cidade Heróica. Em um novo regime onde o poder emana do povo, a teoria da política do poder “a cabresto” foi perdendo força ao longo do tempo.
Ainda enraizada no sistema provinciano, como uma constante teimosia, persiste a cultura das pessoas em tentar buscar o passado que nunca mais voltará, parece ser mais fácil do que enxergar novos horizontes, em busca do desenvolvimento atual do mundo.
Sofro com a situação que vejo hoje em minha terra, volto trinta anos atrás; custo a acreditar que por alguma estupidez nos colocamos avessos ao desenvolvimento e aos novos tempos.
Contudo, também vejo o lado benéfico de toda essa transformação, que de alguma forma ajudou a estabelecer, mesmo que por caminhos tortuosos e dolorosos, um processo que se fazia necessário no que se refere às questões das igualdades sociais e culturais.

“O amanhã dependerá apenas das pessoas que amam a sua terra, que Deus nos ilumine e nos dê a clareza do desenvolvimento”.

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