O Ônibus
Quando embarquei naquele ônibus, percebi que pela primeira vez estava tomando uma decisão com concordância geral. Família, amigos, todos estavam certos de que a nova vida na cidade litorânea me faria muito bem. Dessa vez tinha destino e endereço certos, iria morar com meu tio, um professor de inglês conceituado, proprietário de uma das maiores escolas de idiomas da região. Isso me proporcionaria continuar meus estudos, ao mesmo tempo em que trabalharia, ajudando nas tarefas do dia-a-dia. Realmente tudo estava perfeito!
Eu sempre fiquei com pé atrás quando se tratava de unanimidade, mas dessa vez confesso ter acreditado na idéia de que tudo seria melhor e realmente o novo destino para o qual estava seguindo seria o princípio de dias melhores. Mas, mesmo com tanta certeza de que estava no caminho certo, foi extremamente difícil deixar as minhas raízes... Ainda mais movido por uma grande paixão.
Enquanto o ônibus se deslocava para a saída da cidade, pela janela embaçada da garoa que caía naquela tarde, eu avistava todos os locais que, durante muito tempo, fizeram parte da minha vida. A praça, as avenidas, a escola, as pessoas que passavam apressadas, segurando as coloridas sombrinhas rodeadas pela chuva, que aos poucos branqueava o horizonte, enfim, o cenário perfeito para uma despedida. Talvez o céu estivesse chorando minha partida, não diferentemente dos meus olhos nem da minha alma. Naquele instante pensei que nunca mais voltaria à minha terra. Por essa razão, gravei em minha memória cada momento daquele dia, e mesmo com a visão turvada pela tempestade que caía pude ver, antes que saísse da zona urbana, como último adeus, o bairro onde havia crescido e passado vários momentos que jamais esqueceria.
Pela primeira vez sentia que estava realmente indo embora, e o retorno, se houvesse, seria demorado, talvez impossível! Todos esses pensamentos vinham aliados ao medo da nova situação que viria e a obrigação sobre meus ombros de não falhar, tampouco desapontar as pessoas que, mesmo pouco, ainda acreditavam no meu êxito. Meus amigos e meus pais tinham no fundo a esperança de que meu comportamento fora dos padrões tomasse forma normal. Eu me achava um visionário, mas meus pais eram de um outro tempo, jamais haviam saído da pequena fronteira.
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